Por que adoecemos tanto?
É muito provável que você tenha entre seus familiares alguém com alguma doença cardiovascular (infarto, angina, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral), diabetes, câncer ou obesidade (talvez você mesmo tenha um desses diagnósticos). Essas doenças são denominadas doenças crônicas não-comunicáveis. Estima-se que 80% dos indivíduos com mais de 65 anos tenham pelo menos uma dessas doenças e que 50% tenham pelo menos duas. E elas podem ter mais fatores em comum do que se imaginava.
Teorias mais recentes associam a alta incidência dessas doenças à uma inadaptabilidade de nossos genoma(conjunto de genes) ao ambiente em que vivemos. Toda vez que ocorre uma mudança no ambiente, os seres precisam adaptar-se ou ocorre o que os cientistas chamam de “discordância evolucionária”, que se manifesta como doenças, aumento da mortalidade e queda da capacidade reprodutiva.
Nos últimos 10 mil anos, ocorreram profundas mudanças no modo como nos alimentamos, contrariando mais de 5 milhões de anos de adaptação de nosso genoma à nossa condição de caçadores-coletores. Costumamos associar certos nutrientes com as doenças (por exemplo : gordura saturada causando doença coronariana, sal causando hipertensão arterial).O que estudos mais recentes tem mostrado é que as chamadas doenças crônicas não-comunicáveis são causadas por multifatores dietéticos (além da susceptibilidade genética e outros fatores ambientais), sendo que a inadaptabilidade de nosso genoma ao ambiente atual tem papel fundamental nesse processo.
Alguns dados importantes
- Cerca de 70% da ingesta calórica da dieta ocidental atual são compostos por: derivados do leite, cereais, açúcares refinados e óleos vegetais refinados, nutrientes inexistentes na dieta de nossos antepassados
- Mais de 85% do cereal consumido na dieta ocidental são grãos altamente processados e refinados.
- Entre 1909 e 1999 o consumo de margarina aumentou 410 % (a hidrogenação, processo desenvolvido em 1897, utilizado na solidificação de óleos vegetais produz gordura trans, principalmente o ácido trans-elaídico, absolutamente inexistente na alimentação convencional dos humanos).
- 73%, 61% e 53% dos indivíduos não consomem as necessidades diárias de zinco, magnésio e vitamina B6, respectivamente.
- A relação omega6/ômega 3, que era em torno de 4:1 hoje é de cerca de 20:1.
- 75% da ingesta de sal diária provem do sal adicionado aos alimentos processados e apenas 15% do sal adicionado ao alimento pronto, ou seja, mesmo quando usamos pouco sal à mesa, nossa ingesta diária é alta.
A solução para muitos dos nossos problemas de saúde passa, portanto, por uma mudança no modo como nos alimentamos. Embora a princípio, pareça difícil modificar esses hábitos, podemos começar com pequenas mudanças, como por exemplo incluir mais frutas e vegetais no nosso cardápio, reduzir a ingesta de açúcar (refrigerantes, néctar de frutas), comer mais peixe e menos frituras e carboidratos simples. Essa atitude preventiva (e mais barata) certamente trará resultados positivos a longo prazo, principalmente para nossas crianças e adolescentes.
Marcelo Vaz
CRM 5250143-3